O livro “Os dois Brasis” de J. Lambert ficou famoso na época de sua publicação (1967) ao propor que o desenvolvimento do “Nordeste rural atrasado” deveria passar pela possibilidade de adoção de políticas como aquelas do “Centro-Sul industrializado e urbanizado.” A proposta do economista francês lembra aquela, anterior, de W. Rostow, de que o desenvolvimento seria um processo de crescimento econômico, por etapas, referenciado na revolução industrial e nos “países avançados”.
A atual conjuntura de crise sugere, porém, se repensar o desenvolvimento fora dos marcos ideológicos do “progresso econômico”. A pobreza se revela como um fenômenos que tem variáveis afetivas, psíquicas e morais complexas. Migrantes, refugiados e abandonados sofrem e buscam memórias saudosas de pessoas, lugares e tempos. Na sociedade virtualizada as representações do mundo são reclassificadas por redes e bolhas.
O território do desenvolvimento, lembra A. Jézéquel no livro “Memórias de território” (2021), se reorganiza como espaço psíquico e pulsional, como base de comunidades existenciais onde os indivíduos buscam normalizar suas práticas patológicas. A emergência das comunidades virtuais amplia a sensação de deslocamento, levando a se repensar o tema do território como instância simbólica onde as pessoas se enraízam para sobreviverem à invisibilidade.
A vivência prática dos novos territórios leva os indivíduos a ressignificarem suas hierarquias de saberes nômades e míticos. Os novos olhares sobre a vida deixam de se referir às antigas ideologias do desenvolvimento e circulam sem compromisso ético no campo caótico da imaginação criativa. Memórias visuais como as cores da bandeira nacional alimentam as almas ansiosas e desiludidas com o progresso histórico.
A verdade é moeda de troca negociada por acordos transitórios, organizando sistemas de dominação que se desmancham como as ondas do mar. Em tempos sombrios, o desenvolvimento apenas tem sentido se resultar de amplo acordo político capaz de desfazer ressentimentos e liberar novamente a esperança.
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