O site paulohenriquemartins.com foi produzido pelo Ateliê de Humanidades a fim de organizar e difundir as minhas atividades intelectuais em interação com a rede de pesquisadores e o público mais amplo. Além de ser composto por um acervo digital (com meus artigos, livros, entrevistas, matérias de jornal etc.) e por uma área de notícias, o site é feito para ser, em parceria com o Ateliê de Humanidades, um canal de veiculação de atividades públicas (na forma de artigos, vídeos, podcasts etc.) e de recepção do público por meio de um pequeno Ateliê virtual.
A ideia deste site foi maturada e tomou forma progressivamente quando me convenci, a partir de conversas com colegas e amigos/as, da existência de uma reconfiguração do lugar dos intelectuais no espaço público. Diante de uma sociedade mediada pelos mídias digitais, torna-se fundamental que pesquisadores, professores e intelectuais com atuação nacional e internacional renovem sua forma de dialogar, se posicionar e publicar seus trabalhos e ideias, de modo a conectar, cooperativamente, suas trajetórias e a própria vida universitária com a sociedade e o público. Se não fizermos isso, obras acadêmicas acumuladas através de muito trabalho individual e coletivo tenderão a perder relevância social, seja porque ficarão invisibilizadas pela falta de inserção em um mundo digital marcado pelo turbilhão das redes sociais, seja porque, quando conseguem nelas se inserir, tendem a emular a sua lógica, fragmentando-se na concorrência utilitarista de intelectuais transformados em empreendedores de si mesmos.
Temos que renovar nossos meios de acesso aos públicos interessados em nossas pesquisas individuais e coletivas, fomentando uma interlocução acadêmica e mantendo a atualidade e relevância das produções científicas. A vida universitária está entrando em novo estágio de produção e difusão do conhecimento com a inteligência coletiva físico-digital, que se radicaliza com as novas inteligências artificiais. São construídas, crescentemente, novas ferramentas de divulgação do conhecimento e de constituição de redes colaborativas, ampliando-se as perspectivas da atividade intelectual no plano local, nacional, internacional e transnacional. Neste sentido, a pandemia acelerou ainda mais a desmobilização dos recursos tradicionais que usamos na academia, como a interação em espaços físicos e o acesso a livros e revistas fisicamente localizados. No pós-pandemia, algumas coisas tendem a voltar ao que era antes, mas nos parece um fato que uma nova época está sendo demarcada, onde se faz uma inédita composição da vida acadêmica tradicional com os potenciais do mundo digital.
Com as mídias digitais e as possibilidades múltiplas de armazenamento, divulgação, comunicação e interação providas pelas tecnologias de informação e comunicação, torna-se urgente e plausível a preservação de nossos legados e a geração de novos meios de diálogo, que façam uso do lado positivo da internet e das redes sociais sem recair nas suas tendências à performance utilitarista, ao ego trip e à fragmentação narcisista. Por isso, é importante que pesquisadores e professores organizem, de modo ativo, coletivo e cooperativo, a divulgação de suas memórias e de suas atividades acadêmicas em curso. Portanto, meu site constitui um esforço realista em quatro sentidos.
Em primeiro lugar, trata-se de um registro da memória de meu percurso intelectual, de forma a tornar perceptível seu sentido de conjunto, propiciando tanto o diálogo interpares quanto também uma referência para as novas gerações. Neste sentido, ele é, de um lado, um esforço de evitar a tendência à fragmentação da vida acadêmica, decorrente de sua dispersão em atividades universitárias e publicações de artigos, e, de outro lado, uma tentativa de constituir um espaço digital de visibilização de uma produção intelectual que visa ter um interesse público.
Em segundo lugar, trata-se de construir uma plataforma de diálogo acadêmico e público, feito em conexão com as redes de pesquisadores nacionais e internacionais. Neste sentido, a construção deste site e a sua operação pelo Ateliê de Humanidades é uma forma de evitar a fragmentação, pois ele incentiva, aqui, a formação de uma co-laboração através do Ateliê. Assim, pensamos o Ateliê de Humanidades como um realizador da conexão entre meu site (e todos os outros que vierem) com um espaço ético, cooperativo e eficaz sob o zelo desta instituição em rede que é o Ateliê. Deste modo, estamos diante de uma iniciativa de inovação, que visa fazer avançar o Ateliê de Humanidades como um operador e mediador em redes físico-digitais, oferecendo assim um serviço ao mesmo tempo privado e público, mobilizando suas muitas frentes de atividade (tais como o Fios do Tempo, o República de Ideias, o Pontos de Leitura, o Ateliê de Humanidades Editorial, os eventos nacionais e internacionais etc.) em prol da regeneração de nossa comunidade acadêmica, que está muito dilacerada e vulnerável pelos ares e humores do tempo.
Em terceiro lugar, o site é um convite para a participação dos colegas e amigos que compartilham de nossas preocupações com os rumos da vida universitária. Preocupa-me, sobretudo, o destino público dos pesquisadores sêniores, que se viram, já no meio de suas carreiras, desafiados pelo deslocamento do circuito de debates acadêmicos e públicos para fora de suas rotinas habituais (como a escrita de artigos científicos e livros, a participação em grandes congressos, as lições em salas e auditórios físicos, etc.), o que gerou uma ágora digital da qual muitos deles desconhecem como bem ingressar e participar. Mas ele também visa o fortalecimento de um espírito cooperativo e público entre os jovens pesquisadores, que são mais versados nas tecnologias digitais, mas que, por falta de espaços institucionais desburocratizados e efetivamente cooperativos, se veem muitas vezes forçados a um adoecedor “salve-se quem puder” acadêmico.
Em quarto e último lugar, vemos esta iniciativa como a constituição de uma institucionalidade físico-virtual de cooperação acadêmica que zela por memórias vivas relevantes para nosso tempo histórico; e, por isso, acreditamos que ele tem um papel crítico, pragmático e hermenêutico fundamental e urgente para que nossa vida democracia possa ser, ao mesmo tempo, viva, forte e delicada.
Seja bem-vindo(a) ao site! Seja bem vindo à nossa rede colaborativa!
Escrito por Paulo Henrique Martins, em colaboração com André Magnelli e Lucas Faial Soneghet