Resumo:
Este artigo constitui um balanço provisório dos dez anos de difusão de uma abordagem não-estruturalista sobre o dom, que destaca a liberdade da ação sem negligenciar o valor da obrigação. Assinalamos o período de dez anos pois o ano de 1998 é um marco para alguns eventos que tiveram relevância na difusão de uma nova abordagem sobre o dom: em primeiro lugar, o lançamento do livro O espírito da dádiva, de Jacques Godbout em colaboração com Alain Caillé, que atualiza o valor do dom para explicar fenômenos sociais modernos como a solidariedade social e a doação de órgãos, por exemplo; em segundo, a visita de Godbout ao Brasil como conferencista da Anpocs; em terceiro lugar, a
publicação na Revista Brasileira de Ciências Sociais de autores que se mostram simpáticos à revisão do debate. Assim no número 38 da RBCS de 1998 foram publicados três textos que, no nosso entender, legitimam direta ou indiretamente um paradigma do dom: o artigo de Alain Caillé “Nem holismo nem individualismo metodológico: Marcel Mauss e o paradigma do dom” e o de Jacques Godbout, “Introdução à dádiva”, que tratam diretamente do assunto; e o artigo de Gabriel Cohn, “As diferenças finais: de Simmel a Luhman”, no qual o autor propõe revisitar Simmel a partir de sua proximidade de autores como Mauss – e numa outra perspectiva também Luhman –, que se recusam a aceitar um paradigma baseado na centralidade da troca na vida social, que recusam o reducionismo econômico e que valorizam as relações recíprocas sempre renovadas, sem perder de vista a totalidade. Deve-se ainda relacionar na linha de textos não estruturalistas sobre o dom o artigo de Lygia Sigaud, “As vicissitudes do Ensaio sobre o dom”, de 1999. Embora não dialogando diretamente com os autores do M.A.U.S.S., a autora realiza uma brilhante revisão da leitura empreendida por Lévi-Strauss sobre o dom.
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