Quem são os pardos? São eles negros? Ou são eles mestiços que aspiram a branquitude? O debate é fundamental para esclarecer a relação entre lutas étnico-raciais e democracia. Há setores do movimento negro que sustentam que a maioria dos pardos brasileiros são negros.
O cálculo é duvidoso considerando haver muitos pardos entre militares de baixa patentes e fieis de igrejas pentecostais que perseguem negros pobres e cultos afro-brasileiros. O debate coloca uma dúvida crucial: será que a luta pela superação do racismo não está focalizando excessivamente a polarização étnico-racial descuidando do trabalho de desconstrução da ideologia do branqueamento racial que aparece para muitos como a única condição de reconhecimento social?
O tema conhece aspectos variados dependendo dos elementos culturais presentes. Para a historiadora boliviana Silvia Rivera Cusicanqui, seu país constitui um “mundo ch’ixi”, uma realidade “abigarrada”, misturada, malhada. A tensão étnico-racial se passa entre o mestiço(a) – que quer se embranquecer – e o “cholo(a)” – que quer permanecer índio(a) – sem abrir mão de alguns elementos identitários: o chapéu-coco inglês ou a língua espanhola. Então, para Cusicanqui, há que se descolonizar o mestiço mas também o cholo que ficou prisioneiro de leituras folclóricas.
Este debate sobre a genealogia do mestiço é revelador da relação entre branqueamento e poder. A categoria “pardo” (do IBGE) é colonial e esconde mais que revela o problema racial derivado do mestiço como vimos recentemente nas eleições para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Se movimento negro incorpora automaticamente o pardo com negro ele corre o risco, na prática, de ser politicamente escanteado pelos colonizados mestiços. Esta estratégia elimina também a possibilidade de visibilidade de indivíduos “pardos” cujas ancestralidades são índias e brancos pobres e que possuam outras peculiaridades no processo colonizador.
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