O Mercado contra a Sociedade Nacional (Artigo de jornal)

Em dezembro de 2017, escrevi um artigo no O Povo intitulado “Intenções ocultas do tal mercado neoliberal”. Explicava que a estratégia de hegemonia das elites financeiras e rentistas no interior do sistema de poder nacional passava pela ameaça velada de acionar a espada de Dâmocles. Ou se fariam reformas exigidas pelo Mercado como privatizações e cortes no orçamento da União para garantir o pagamento pelo Tesouro Nacional dos juros aos bancos, ou teríamos caos econômico. Na oportunidade, esclareci que ‘teses neoliberais de desmanche do Estado visavam apenas os países periféricos fornecedores de matéria prima e de minerais, que possuem terras férteis, água doce e mercados consumidores atraentes”. Há, porém, nesta estratégia que eleva o lucro a bem maior da vida um ponto problemático para reflexão coletiva. Ele tem a ver com o fato que decisões cruciais sobre economia continuam subordinadas às tensões no poder nacional: entre governantes e sociedade civil e política. Em países com a dimensão do Brasil as pressões internacionais são, em grande medida, moduladas pelo modo de se organizar o poder na sociedade nacional. Nesta perspectiva o otimismo intrigante do Mercado com o desempenho da economia brasileira simplesmente reflete um discurso egoísta e simplificado da realidade que evacua a complexidade do social.

Reinado Oliveira (Folha, 31/01/20) no artigo “Mercados se tornam parceiros de governo obscurantista” explicita as contradições morais entre as intenções utilitaristas do Mercado e a complexidade do mundo real. Diz ele, ironicamente, que ‘se o presidente cismar de derrubar metade da Amazônia, o negócio é comprar papeis de alguma madeireira”. Este raciocínio mercadológico tem o mérito de sublinhar a fragilidade política do algoritmo do Mercado ao lidar com questões humanas e ambientais concretas. Sendo a política dinâmica, a ficção totalitária de hoje pode se tornar um pesadelo, logo mais. Basta a opinião púbica entender que banco não é uma entidade extra-terrestre, mas uma organização econômica que deve negociar com transparência seus interesses na cena política nacional.

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