A mídia ressalta as preocupações do “Mercado” com o desempenho da economia e da política no país. Mas a opinião pública está percebendo que tais preocupações se voltam exclusivamente para a adoção de medidas que aumentem as taxas de rendimentos financeiros e especulativos sem nenhum compromisso com ações que resolvam o desemprego, a exclusão e a desigualdade. Fica a impressão que esta parcela do empresariado não está mais preocupada com o trabalho produtivo e o lucro justo e, por consequência, com os temas da segurança social e da soberania nacional.
Esta cultura capitalista do ganho especulativo sem vinculação com o trabalho produtivo leva-nos a pensar na hipótese de estar havendo uma involução das condições morais e culturais que marcaram a emancipação histórica do capitalista inovador descrito por Max Weber no seu clássico “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (2004). Para este autor alemão, o capitalista inovador seria fruto de um certo individualismo histórico produzido com as reformas protestantes e que teria se afirmado contra a ordem economicamente conservadora do feudalismo europeu. O capitalista focalizado por este autor veria o trabalho produtivo gerador de lucros, poupanças e investimentos como uma finalidade em sim mesma, respondendo aos apelos para trazer a disciplina religiosa para o mundo do trabalho material.
O capitalista inovador no mundo do trabalho e da política explica a invenção do liberalismo econômico e político. A reconversão deste inovador num tipo conservador indiferente às políticas públicas organizadoras do empreendedorismo produtivo e do mercado de trabalho formal, é objetivo de preocupação política e moral. No caso brasileiro não se trata de uma reconversão ao espírito feudalista mas ao espírito colonial e escravista. O fato que o trabalho informal e mesmo escravo esteja se ampliando apenas revela esta face do espírito do capitalista brasileiro.