Entre os anos 80 e 90 do século XX o Brasil conheceu profundas transformações estruturais que repercutem no momento atual. Houve dois eventos importantes. Um deles foi a crise do modelo nacional-desenvolvimentista implantado no pós-segunda guerra, visando promover o desenvolvimento acelerado do pais sob a égide do estado. A crise deste modelo nos anos 80 foi agravada com as desastradas intervenções do governo Sarney para controla os preços e evitar a inflação. A imagem negativa do estado foi acirrada com as tentativas do governo Collor de congelar as poupanças bancárias. O segundo evento, nos governos de F.H. Cardoso, foi a penetração das teses neoliberais voltadas para liberar a economia de mercado e para privatização de empresas estatais. A opinião pública, reticente com o estado, se entusiasmou com os novos ventos da globalização. Muitos previam o fim dos estados nacionais. A recepção positiva da globalização se apoiou na “queda” do muro de Berlim, sugerindo o início de uma democracia liberal global sob a proteção dos Estados Unidos. O consenso de Washington, em 1989, visando a ampliação do neoliberalismo na América Latina, reforçou a tese da globalização da economia latino-americana.
Os defensores das teses nacional-desenvolvimentistas ficaram enfraquecidos sobretudo porque a opinião pública identificava no estado a origem de todos os males. A globalização aparecia com a síntese de realização de um sonho importante de décadas: a da entrada do Brasil no circuito global. Um mundo sem fronteiras, sem estados nacionais no qual todos seriamos cidadãos globais. Hoje, fazendo a retrospectiva dos acontecimentos podemos constatar os erros de avaliações.
As fraturas do estado nacional revelam novos e cruéis arranjos de poder envolvendo o capitalismo especulativo e rentista internacional e nacional e frações importantes das elites econômicas, burocráticas e políticas, ameaçando desmanchar o Brasil. O mundo piorou e o país vive o perigo da recolonização territorial. Há que se reconhecer que a única resistência viável contra os assédios do capitalismo especulativo e rentista internacional são os estados nacionais. A sobrevivência de sociedades pós-coloniais como a brasileira exige necessariamente um aparato estatal apoiado num sistema nacional autocentrado para retomar investimentos na economia, no social e no cultural. Soberania nacional, estado planejador das atividades territoriais de médio e longo prazo e nação sentimental organizada na sua pluralidade são condições fundamentais para se repensar a utopia do desenvolvimento nacional e democrático.
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