Nós, brasileiros, por motivos vários ligados à colonialidade, não temos consciência clara sobre o valor da pátria para a emancipação democrática da nação. O termo pátria tem uma conotação muito importante para a organização de uma comunidade nacional imaginária, soberana e autônoma. Na sua origem latina ela remete a um lugar de origem: a uma aldeia, a uma terra dos ancestrais, às memórias e à história. O sentimento patriótico define a localização territorial onde prosperam emoções coletivas mais amplas que legitimam os valores e as regras da nação e da experiência democrática. O filósofo Charles Taylor, pensando o caso canadense, propõe o termo pluralismo pátrio para a variedade de sentimentos culturais dentro do território nacional.
No plano institucional a pátria se materializa por estruturas verticais como as forças armadas, as organizações burocráticas, religiosas, educacionais e familiares entre outras. Autoridade e disciplina não são categorias hierárquicas negativas que impediriam a plena liberdade dos indivíduos como sugerem os ultra-liberais. Ao contrário, elas são condições básicas para organizar em escala macrossocial o poder administrativo, a vida associativa e a cidadania solidária. No plano horizontal, o sentimento pátrio se manifesta nas práticas de adesão espontâneas à sociedade civil integrando as crenças, regras e valores, comuns e diferenciados. Os desfiles escolares, os grêmios recreativos, os movimentos coletivos diversos, as ações voluntárias e as reuniões de parentes e amigos irrigam esta solidariedade gerada pelo sentimento pátrio.
A vivência coletiva do patriotismo se materializa nos emblemas, nas bandeiras, nos cânticos e nos gestos ritualizados. A pátria é vivenciada poeticamente nos versos de Olavo Bilac e de Oswald de Andrade. Caetano Veloso expressa com particular intensidade seu valor sentimental quando diz “A língua é minha pátria. E eu não tenho pátria, tenho mátria. E quero frátria”. Neste verso a língua aparece como veículo central para produzir significações coletivas: a mátria amplia o pátrio para incluir o feminino e a frátria reúne homens e mulheres numa mesma confraria. Neste momento de crise da sociedade brasileira é importante reaprender a honrar os símbolos pátrios e mátrios. São eles que nos permitem louvar sentimentalmente os ancestrais que nos trazem as memórias e que nos inspiram para repensar as solidariedades morais e afetivas plurais na família, na escola, no trabalho, nas associações e nas avenidas. Por aí, podemos ressignificar o ideal da nação brasileira tão fragilizada no momento presente.