O novo radicalismo de direita (Artigo de jornal)

Em 1967, Theodor Adorno, um dos formuladores da Teoria Crítica fez uma palestra intitulada “Aspectos do novo radicalismo de direita” que surpreende pela atualidade.

Segundo ele, apesar das alterações de forma, os pressupostos centrais do movimento fascista ainda perduravam na Alemanha do pós-guerra. E ele relaciona dados – a) Fantasma do desemprego tecnológico: “pessoas que estão no processo de produção sentem-se já como potencialmente supérfluas”; b) Presença de uma escatologia de fim de mundo fundada no medo e no terror; c) Emergência da propaganda apoiada na técnica como substância da política num contexto de baixo nível de reflexividade, gerando “curiosa unidade de sistema delirante e perfeição tecnológica”; d) Culto da ordem e da disciplina como um fim em si e fetichização do “homem militar”, sem se perguntar mesmo sobre disciplina para quê?; e) Horror à palavra comunismo, visto como uma unidade mítica e abstrata assustadora; f) Uso da técnica a serviço da inverdade retirando “observações verdadeiras ou incorretas de seu verdadeiro contexto”; g) Uso da propaganda como uma técnica de psicologia de massas gerando “um modelo de personalidade fixado na autoridade”.

Para o escritor Mark Twan, “a história nunca se repete, mas rima”, no sentido de que os eventos não são ocorrências históricas isoladas, mas repetição de algo já ocorrido. Este comentário faz sentido para esta reflexão quando entendemos com Terry Eagleton, no seu “O sentido da vida”, que a condição humana se organiza por padrões significantes, independente das intenções dos indivíduos de controlar os fatos.

No contexto atual de reprodução dos pressupostos do fascismo, podemos lembrar que a aceleração da modernização técnica fez emergir um padrão de poder hipnótico de inspiração econômica e utilitária que gerou crise dos valores de solidariedade, submetendo a política à violência calculada do capitalismo tanático.

Uma das conclusões deste radicalismo, diz Adorno, é entender os movimentos fascistas como as feridas de uma democracia “que até hoje não faz justiça a seu próprio conceito”.

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