O delírio coletivo que tomou conta de milhares de brasileiros que pedem golpe militar neste contexto pós-eleitoral é sintoma de uma patologia política.
Como explicar o fato de que pessoas até há pouco tempo sociáveis se tornam “patriotas” intolerantes e agressivos? Há vários motivos. Um deles foi a manipulação pelos populistas de parte do campo neopentecostal, visando reduzir a disputa eleitoral à luta do bem (Bolsonaro) contra o mal (Lula). Outro motivo, a manipulação de parte das classes médias pela chamada operação Lava-Jato com apoio de parte da mídia, buscando criminalizar Lula como corrupto mesmo sem provas judiciais. Como o estigma continua forte, apesar de Lula já ter sido inocentado, é de se perguntar se não existe aí um toque de racismo cultural.
Um terceiro motivo se refere a narrativas antidemocráticas da extrema-direita global que tem entre lideranças expressivas Trump e Bolsonaro. Um quarto, a politização das Forças Armadas por uma ideologia “anticomunista” fora de moda, mas que continua a interferir como um fantasma na formação dos militares. Um quinto motivo, o interesse dos grandes financistas de evitar que o governo do PT interfira nos mecanismos fiscais montados para acelerar a acumulação especulativa e rentista. A defesa insana de um teto de gastos inviável é prova disto.
Ressalte-se que estes discursos manipuladores do real apenas se reproduzem por potencializarem no campo da política sentimentos intensos de frustração produzidos pelas adversidades sociais e agravados pela pandemia. O bolsonarismo é um produto delirante do vácuo de poder criado pela crise do político. Como o delírio é uma patologia gerada por convicções errôneas sobre a realidade, ele tende a enfraquecer os dispositivos de imunologia social e de defesa psicológica dos indivíduos. Estes se tornam presas fáceis de estratégias de manipulação de inspiração fascista que “elegem” a figura de Bolsonaro como redentor. A tarefa de promoção da normalidade democrática vai exigir muito talento político pela nova frente governamental dirigida por Lula. E um pouco de sorte.
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