Corporativismo militante (Artigo de Jornal)

O corporativismo é um fenômeno presente em todas sociedades históricas. Ele constitui o ethos de grupos de interesses que compartilham visões próprias de mundo e sentimentos de autodefesa, nas esferas comunitárias, privadas e públicas. As corporações apresentam diversos modelos – étnicos, religiosos, sindicais, políticos, militares – sempre buscando fortalecer alguns emblemas, ritos e símbolos que dão sentido moral e estético ao grupo.

O corporativismo é essencial para sociedades complexas que necessitam estabelecer certas regras, funções e rotinas previsíveis. O Estado Moderno se formou através de uma constelação de corporações profissionais em campos diversos: da ciência, da justiça, da da administração, da política e da segurança. Em sociedades pós-coloniais como a brasileira as corporações apresentam historicamente papeis relevantes na organização do Estado. Entre elas merece destaque as Forças Armadas pela sua implicação com a soberania nacional. Mas, nas últimas décadas, estas últimas insistem numa militância partidária no mínimo controversa, a da luta ideológica contra o fantasma do comunismo.

Entende-se que esta luta foi reflexo do apoio do Brasil aos States no momento de uma disputa de narrativas importantes entre norte-americanos e russos, na época da “guerra fria”. Mas o mundo mudou radicalmente, Rússia e China que deveriam ser os inimigos comunistas estão, de fato, agora, mais interessados nas relações comerciais fora da área de influência norte-americana. O apoio político explícito de muitos militares a Bolsonaro espelha bem o enfraquecimento ideológico desde corporativismo militante.

A imagem de profissionalismo e integridade moral desta corporação vem sendo manchada pela insistência na imposição de teses controversas recebidas por muitos como ameaças a democracia. A desglobalização atual impõe novos desafios à defesa das sociedades nacionais com valorização de políticas que priorizem temas como clima e bem-estar social e superação de devaneios ideológicos. O mundo cibernético exige repaginação do próprio corporativismo estatal.

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