O Estado não quebra, o Mercado, sim (Artigo de jornal)

Uma das grandes lições que a pandemia do coronavirus revela é que Estado não quebra ao contrário do Mercado. Este, à primeira ameaça de crise, foge para lugares seguros. Na verdade, a ideia de que o Mercado poderia substituir o Estado como regulador da vida econômica e social era uma lenda. Os economistas neoliberais sabiam disto mas a sustentavam para legitimar um objetivo bem utilitário: o de privatização das funções organizativas do aparelho estatal com vistas a facilitar o processo de acumulação especulativa e de expropriação de riquezas. Todos sabem, por exemplo, da importância dos bancos centrais para assegurar os lucros dos bancos privados. Então, neste caso Estado é bom. Mas na hora de valorizar políticas públicas nas áreas de saúde, educação e trabalho, o Estado é ruim. As pressões de autonomização do Banco Central do Brasil era apenas uma estratégia para reforçar a submissão do Estado ao Mercado financeiro. Dominando as finanças o sistema financeiro e rentista pode dobrar a vontade política de empresários e de classes médias. 

Agora, a situação mudou. Como Estado não quebra, ao contrário do Mercado, os principais governantes mundiais estão sendo obrigados a emitir moeda para financiar empresas e manter empregos. Políticas de bolsa família e de renda mínima, satanizadas pelos neoliberais, se revelam centrais. Armínio Fraga e José Alexandre Scheinkman, economistas críticos do keynesianismo, estão, agora, defendendo políticas anti-crise. A conta é simples: se os grandes bancos não querem correr risco de emprestar, o Banco Central tem obrigação de fazê-lo. Se a demanda está reprimida e a oferta ociosa, dinheiro para o bolso da população apenas gera bem-estar e riqueza. Das duas, uma: ou caiu o véu da ignorância ou aquele da manipulação desonesta da economia. O problema maior, como reconheceu o presidente do Banco Itaú, é que estamos sem liderança. De fato, o programa mental de Bolsonaro é perseguir fantasmas e não de gerir a conciliação nacional. Esta é uma das lições dadas pela crise do vírus.

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