A ganância da acumulação rentista (Artigo de jornal)

O presidente Lula em reunião com seus ministros neste mês de março fez uma afirmação politicamente interessante. Ao ressaltar a importância de investimentos públicos ele disse que “não dá para ficar achando que o gostoso é guardar dinheiro”.

À primeira vista, poderíamos concluir que ele estaria estimulando as pessoas comuns a ampliarem seus gastos sem fazer poupanças. Neste momento em que milhares de famílias brasileiras se encontram muito endividadas esta afirmação poderia soar como contraditória. Mas sendo pronunciada neste contexto de dificuldades de governabilidade, a frase tem outro sentido. Ela justifica a importância de investimentos estatais tanto em obras que geram emprego como em transferências para políticas sociais e públicas. Isto é o contrário das teses monetaristas que pregam corte de gastos governamentais para privilegiar transferências de juros de dívida para o sistema financeiro.

Tais teses refletem as posições de especuladores neoliberais gananciosos que temem os efeitos de ações estatais para o desenvolvimento sobre a distribuição crescente de dividendos para acionistas privados. Quando os ganhos especulativos aparecem como mais relevantes que os investimentos na produção e na proteção ao trabalho, temos uma estagnação econômica e social inevitável.

Sabemos que o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas, em 2019, constitui um dos maiores desastres humanitários e ecológicos do século, expondo o descuido da Vale do Rio Doce com investimentos na segurança do trabalhador e da população local. Essa mesma lógica extrativista e especulativa vemos, agora, com a Petrobras que distribuiu uma soma absurda de dividendos aos sócios minoritários de Wall Street. Isto com prejuízos dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos como energia renovável.

Os eventos dão sentido a um ensinamento atribuído a Tancredo Neves: “Esperteza, quando é muita, come o dono”. Esta é uma máxima que os financistas rentistas deveriam considerar nos cálculos de ganhos egoístas que se traduzem na prática com a destruição da economia real.