Publicado originalmente no O Povo 18/11/2023
No Brasil, nos últimos anos, a crítica decolonial tem contribuído para se organizar a critica do racismo estrutural e institucional. Na América Latina esta crítica está historicamente ligada aos esforços de adaptação do tema da classe ao de grupos étnicos originários, explicando a complexidade da questão social nas antigas colônias. Raça é o sistema classificatório colonial que produz o racismo e que se torna visível ao se confrontar as duas categorias: classe e etnicidade. O debate decolonial emerge em países da região com forte presença indígena, mas no Brasil ele tem tido grande receptividade junto ao movimento negro. A recepção é justificada devido à importância de se denunciar as injustiças herdadas da escravidão e que se perpetuam na democracia oligárquica. Mas é importante se entender que na lógica teórica da decolonialidade não se pode separar o elemento étnico daquele de classe ou o problema da cor daquele da renda. Somente assim se pode entender o racismo como produto do capitalismo colonial entre a exploração dos subalternos e a ganância do lucro. A questão étnica precisa estar conectada com a questão econômica para se entender o racismo como algo que extrapola a questão moral da violência e da humilhação para contaminar as instituições do poder e a cultura; pois o padrão de poder colonial se enraíza na ordem institucional comprometendo o programa democrático e emancipatório. Mas a crítica deste padrão exige a superação da classificação étnica binária dominante (negros versus brancos), para incluir os sentidos plurais das tensões inter-étnicas e, também, as consequências políticas e culturais da miscigenação racial no Brasil. Esta abertura para a construção de alianças entre diversos “outros” pode ser o caminho adequado para se promover uma ampla política de liberação coletiva para além das diversidades étnicas e particulares. E, logo, para se realizar a critica dos dispositivos institucionais que legitimam o “embranquecimento” como ideologia e prática de reprodução da hierarquia racista no campo do sistema de poder nacional.
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